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11/10/2012

Os centros espíritas devem ou não doutrinar? Se sim, por que é que o devem fazer?

 O amor não termina no desencarne
Alguns espíritas, diz Herculano Pires ([1]), pretendem suprimir a doutrinação, alegando que esta é realizada com mais eficiência pelos bons Espíritos no plano espiritual. Essa é uma prova de ignorância generalizada da Doutrina no próprio meio espírita, pois nela tudo se define em termos de relação e evolução. Os Espíritos sofredores permanecem apegados à matéria e à vida terrena, razão pela qual os Protetores Espirituais têm dificuldade de se comunicar com eles. O seu envolvimento com os fluidos e as emanações ectoplásmicas próprias da sessão mediúnica são, portanto, necessários, o que evidencia que a reunião mediúnica e a doutrinação humana dos desencarnados são uma necessidade. ([2])
A morte não tem o poder de transformar ninguém. Cada Espírito, ao desencarnar, leva consigo as suas virtudes e os seus defeitos, continuando na vida espiritual a ser o que era quando ligado ao corpo, com os seus vícios e condicionamentos materiais, dos quais se liberta pouco a pouco.  Além disso, confundido pelas lições recebidas das religiões tradicionais, o Espírito não encontra no Além aquilo que esperava: nem céu, nem inferno, muito menos o repouso até o juízo final. Ao contrário, ele aí encontra a dura realidade espiritual, fundamentada na existência da lei de causa e efeito, onde cada qual se mostra como é, sem disfarces, falsas aparências ou o verniz social.
A sua condição espiritual determina a sua aura psíquica e o seu peso específico, frutos ambos da elevação maior ou menor dos seus pensamentos, sentimentos e atos. Quanto mais elevados estes forem, menos denso será o seu períspirito, de modo que cada habitante do mundo espiritual se coloca no seu merecido e devido lugar, sem privilégios de qualquer espécie.
Os que se encontram em posição de perturbação por falta de esclarecimento adequado, ou por renitência no mal, necessitam de ser orientados, para que, modificando-se mentalmente, melhorem a sua condição espiritual. Como muitas vezes ainda estão cheios de condicionamentos materiais, tais Espíritos repelem a ação mais direta dos orientadores desencarnados, razão pela qual requerem um contacto com os encarnados, naturalmente mais afeitos aos fluidos densos da matéria. É o que ocorre nas sessões mediúnicas.
Os orientadores desencarnados falam-lhe, mas não conseguem atingi-los. No contacto, com um médium, pelo facto de terem vibrações assemelhadas, há a possibilidade de entendimento. Surge, então, a doutrinação, que visa a modificar a sua forma de pensar e de agir, buscando a sua melhora.
Ensinando-lhes o caminho do bem e do perdão, despertando-os para a necessidade de renovação espiritual, ajudamo-los a descobrir o Evangelho de Jesus para a sua libertação integral. ([3]É por isso que a doutrinação dos Espíritos desencarnados é de grande importância para apressar o progresso dos companheiros que estagiam no mundo espiritual, trazendo benéficos resultados para o mundo corpóreo. ([4])

Objetivos da doutrinação – Diz-nos Edgard Armond que as sessões de doutrinação de Espíritos objetivam esclarecer entidades desencarnadas a respeito da sua própria situação espiritual, orientando-as no sentido do seu despertamento no plano invisível e o seu subsequente equilíbrio e progressos espirituais.



[1] “Obsessão, o Passe, a Doutrinação”, págs. 65 e 66.
[2] O caso Valentine Laurent relatado por Kardec na “Revista Espírita”, ano de 1865, págs. 4 a 19, comprova que nos processos de subjugação o magnetismo é por si só impotente para a reversão do mal, se a causa não tiver sido afastada, mostrando dessa forma a importância da doutrinação, assunto que o Codificador trata também em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. XXVIII, no item 81 e na “Observação” ao final do item 84.
[3] Allan Kardec ensina, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, cap. XXVIII, item 81, que é possível, por meio de instruções habilmente dirigidas, despertar o arrependimento e o desejo do bem nos Espíritos endurecidos e perversos.
[4] A lição extraída do caso Xumene, relatado por Kardec em “O Céu e o Inferno”, 2a Parte, cap. VII, mostra-nos que devemos ter paciência na tarefa de regeneração dos Espíritos endurecidos, porquanto, como sabemos, o Espiritismo não torna perfeitos nem mesmo os seus mais crentes adeptos. “A crença é o primeiro passo; vem em seguida a fé e a transformação por sua vez”, adverte o Guia espiritual mencionado por Kardec na lição referida.

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